quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Habitual de Amanda


Amanda abriu os olhos, espreguiçou-se e levantou com o ânimo habitual. Era segunda-feira. E lá se ia ela a perder-se em rotina. As flores só têm cheiro para quem nunca passou pelo jardim, as árvores são verdes para quem nunca caminhou por essa rua.
Com sua visão cinza de Campo Grande, ia Amanda ao ponto de ônibus, passando por belas e cheirosas paisagens para as quais seus instintos estavam adormecidos. A rotina brutal de sentar-se e esperar o tempo passar havia anestesiado sua percepção.
Os sentimentos das oito as dezoito eram maquinais. Era sempre assim de segunda a sexta. Nos sábados até o meio dia. Desse período em diante, principalmente aos domingos, acontecia a metamorfose. A crosta burocrática se quebrava e uma pessoa amável e religiosa brotava. Amante da vida até as vinte e uma horas, horário de dormir.
Essa era a regra. Vamos à exceção:
Segunda-feira foi rotineira até o horário de almoço. Foi por esse horário que se deparou com o calendário. Notou então que era seu aniversário, encheu-se da nostalgia e depressão que lhe davam prazer. Pensou só no que não havia feito. Analisou que o dia correria de forma diferente e que sua família poderia ter notado qual data era.
Fingiu então alegria pela possível festa surpresa que estavam preparando. Eles não eram bons de surpresa, mas eram uns bobos amáveis. As horas correram com um tom de ansiedade. Os barulhos dos carros zumbiam notas de prazer pela vida correr caótica. As horas passaram.
Amanda recebeu uma ligação, pediam que fosse a casa de Augusto. Ela analisou e decidiu ir para casa direto. Esse convite para casa de Augusto era para distraí-la enquanto terminavam os preparativos. Confirmou o convite e partiu para casa.
Abriu a porta esperando ter segundos de verdadeira felicidade por haver pessoas da quais gosta reunidas. Deparou-se com o breu e o silêncio por segundos. Retornou a frieza habitual. Iria receber os parabéns quando todos chegassem do trabalho. Foi dormir. Para que não fosse incomodada, desligou-se do mundo.
Na casa de Augusto todos esperavam por Amanda que demorava a aparecer. Alguns parentes já bêbados, pois haviam atacado as cervejas antes da hora. A aniversariante não chegava e parecia incomunicável. A festa surpresa havia melado.

Créditos: Lander Paz

Blog. http://textosdolander.zip.net/

(Em oferecimento a minha prima Fabíola pelo niver dela (P.S. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência ou sacanagem mesmo))

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011